Chegar e partir são movimentos naturais da vida - temos os filhos, os criamos e amamos com o nosso melhor, celebramos suas conquistas desde o primeiro passo, a primeira palavra, a entrada na escola, na faculdade, a formatura e o mundo do trabalho, da vida adulta. Sofremos com o último parto: a vida!
Como pais e mães precisamos aprender, no decorrer do processo, a vivenciar os diversos partos, não há manual e a experiência dos outros não é a nossa, temos sempre a sensação de que "comigo vai ser diferente, e é mesmo, porque a nossa alegria é mais intensa, a nossa preocupação é maior, as nossas noites em claro são mais compridas, o nossa rotina é mais cansativa, as nossas dores são mais profundas - só porque são as NOSSAS! E isso tudo é verdade!
Só quando somos "atingidos" pela maternidade/paternidade é que entendemos muitas coisas, principalmente, as falas de nossas mães quando éramos apenas filhos:"você vai ver quando tiver filhos", "tomara que você tenha filhos iguais a você" - os temos! Entendemos as preocupações, o cansaço, a falta de tempo, a falta de cuidado consigo mesmos, a priorização dos filhos, importância do trabalho como garantia de sustento e segurança, a pressa, a seriedade. Sim, entendemos e paramos de julgar nossos pais.
Cinco partos dos filhos
Mas são os partos que mais nos marcam, as separações graduais que se apresentam em cada fase da vida deles. Considere que o o primeiro parto é vivido pelo pai. O pai, mesmo sem consciência plena ou intensão, é o responsável pela geração da vida, o primeiro parto, porque é dele que o filho parte ao encontro da sua outra metade, guardada no corpo da mãe.
Já no corpo da mãe, o filho se completa, se transforma, se nutre, cresce, se abriga até o próximo parto! Uns forçam o parto antes, não esperam o tempo; outros, vem com agendamento e outros permanecem pelo máximo de tempo que podem até que o tempo force o parto. Os filhos vem assim, de partida em partida...
As mães sentem o peso da barriga, sente medo do parto e medo de ficar sem o filho. Na barriga, filho e mãe são um, não há necessidades, não se separam. É bom, prático, confortável.
Vem o parto, o segundo, agora partindo da mãe, separa mãe e filho e recoloca o pai no cenário. Tudo é aprendizagem, nem tão fácil, nem tão difícil, mas muito exigente para os três. O filho adapta-se ao mundo, ruídos, sabores, toques, necessidades, sentimentos,... Os pais se adaptam ao filho, vivem o filho, respiram o filho, adaptam a casa e o que for possível para o acolhimento do seu ilustre rebento.
Mas os pais não tem poder para adaptar a vida, a vida é como é, simples assim! Acontece dia após dia, traz a escola e outras pessoas para a vida do filho, terceiro parto. O filho vira aluno e se adapta a novas regras de convivência, à diversidade, ao comunitário. O filho vai e volta. E por alguns anos fica tudo em paz.
Então vem um marco de separação maior e mais difícil: a universidade! Todos os pais sonham com esse dia, mas não se preparam para vivê-lo, o filho agora vai e não volta. Muda de casa, de rotina, de amigos, de cidade, de interesses,... O que fazer com o lugar vazio à mesa? O que fazer com o lugar vazio no quarto? O que fazer com o silêncio? Quem vai deixar louça suja na pia? Quem vai deixar a toalha molhada sobre a cama? Quem vai deixar a roupa espalhada pela casa? Quem vai movimentar a vida dentro de casa? Depois vem a formatura, quarto parto, e o cordão umbilical se rompe de vez (e tem que ser assim!) quando o filho entra no mundo do trabalho, da vida adulta e nunca mais retorna ao ninho - quinto parto. Parece desolador!
Vida que segue
Mas não é! O filho segue em frente, constrói sua história, sua vida e os pais devem fazer o mesmo. O filho não deixa de existir, o filho cresce e cada espaço vai se tornando menor, então precisa sair, mudar, buscar lugares maiores, se tornar maior através de uma família. É assim! E assim está certo!
Aos pais cabe o dever de se debruçarem sobre suas vidas, seus novos sonhos, sua nova relação de amor e cumplicidade, seus novos projetos, sua nova liberdade! O mundo é melhor, porque seus filhos estão nele. O seu mundo é maior, porque agora você é dona/dono dele!
Quando os pais estão bem, os filhos também ficam bem, porque mesmo não sendo responsáveis pela felicidade dos pais, os filhos se sentem responsáveis pelo vazio. Os filhos não carregam os pais e os pais respeitam o direito dos filhos de viver a vida como e com quem quiserem, porque todos nos colocamos a serviço da vida.
Ser feliz é uma decisão individual, um compromisso de amor próprio, sendo feliz, os pais libertam os filhos para a felicidade, porque isso eles também aprendem pelo exemplo!
Abraços
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